Em
meio à crise decorrente do escândalo de corrupção na Petrobras,
dirigentes regionais do Partido dos Trabalhadores decidiram lançar nesta
segunda-feira (30/3) um manifesto com 10 propostas para sobreviver ao
momento político. Após reunião com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, a legenda divulgou um plano de três páginas, para articulação de
ampla frente de partidos com objetivo de enfrentar a oposição, que tem
aproveitado a crise para pressionar o governo da presidente Dilma
Rousseff.
Na reunião com a executiva nacional, em São Paulo, os
presidentes estaduais relataram a situação política em cada unidade da
Federação ao presidente nacional, Rui Falcão, e aos senadores Fátima
Bezerra (RN), Jorge Viana (AC) e Regina Soares (PI).
Além de
reunir com os dirigentes, Lula esteve com o novo ministro da Educação, o
professor Renato Janine Ribeiro, que deve tomar posse na próxima
segunda-feira. Eles se encontraram em um hotel da Zona Sul de São Paulo,
em evento promovido pelo Instituto Lula. O presidente da entidade,
Paulo Okamotto, negou que o encontro estivesse marcado antes mesmo da
nomeação de Ribeiro, anunciada na sexta-feira da semana passada.
De
acordo com interlocutores do ex-presidente que estiveram no encontro,
Lula e Ribeiro conversaram sobre ética e corrupção. Em artigos recentes
publicados na imprensa, o futuro ministro, que é professor de ética e
filosofia política na Universidade de São Paulo, fez críticas ao
governo. Leia a íntegra do texto.
Leia a íntegra do manifesto divulgado pelo PT:
“Manifesto dos DRs
Nunca
como antes, porém, a ofensiva de agora é uma campanha de cerco e
aniquilamento. Como já propuseram no passado, é preciso acabar com a
nossa raça. Para isso, vale tudo. Inclusive, criminalizar o PT — quem
sabe até toda a esquerda e os movimentos sociais.
Condenam-nos
não por nossos erros, que certamente ocorrem numa organização que
reúne milhares de filiados. Perseguemnos pelas nossas virtudes. Não
suportam que o PT, em tão pouco tempo, tenha retirado da miséria
extrema 36 milhões de brasileiros e brasileiras. Que nossos governos
tenham possibilitado o ingresso de milhares de negros e pobres nas
universidades.
Não toleram
que, pela quarta vez consecutiva, nosso projeto de País tenha sido
vitorioso nas urnas. Primeiro com um operário, rompendo um preconceito
ideológico secular; em seguida, com uma mulher, que jogou sua vida
contra a ditadura para devolver a democracia ao Brasil.
Maus
perdedores no jogo democrático, tentam agora reverter, sem eleições, o
resultado eleitoral. Em função dos escândalos da Petrobrás,
denunciados e investigados sob nosso governo -– algo que não ocorria em
governos anteriores –, querem fazer do PT bode expiatório da corrupção
nacional e de dificuldades passageiras da economia, em um contexto
adverso de crise mundial prolongada.
Como
já reiteramos em outras ocasiões, somos a favor de investigar os fatos
com o maior rigor e de punir corruptos e corruptores, nos marcos do
Estado Democrático de Direito. E, caso qualquer filiado do PT seja
condenado em virtude de eventuais falcatruas, será excluído de nossas
fileiras.
O PT precisa
identificar melhor e enfrentar a maré conservadora em marcha. Combater,
com argumentos e mobilização, a direita e a extrema-direita
minoritárias que buscam converter-se em maioria todas as vezes que as 2
mudanças aparecem no horizonte. Para isso, para sair da defensiva e
retomar a iniciativa política, devemos assumir responsabilidades e
corrigir rumos. Com transparência e coragem. Com a retomada de valores
de nossas origens, entre as quais a ideia fundadora da construção de
uma nova sociedade.
Ao nosso
5º Congresso, já em andamento, caberá promover um reencontro com o PT
dos anos 80, quando nos constituímos num partido com vocação
democrática e transformação da sociedade – e não num partido do
“melhorismo”. Quando lutávamos por formas de democracia participativa
no Brasil, cuja ausência, entre nós também, é causa direta de alguns
desvios que abalaram a confiança no PT.
Nosso
5º Congresso, cuja primeira etapa será aberta, a fim de recolher
contribuições, críticas e novas energias de fora, deverá sacudir o PT. A
fim de que retome sua radicalidade política, seu caráter plural e não-
dogmático. Para que desmanche a teia burocrática que imobiliza
direções em todos os níveis e nos acomoda ao status quo.
O
PT não pode encerrar-se em si mesmo, numa rigidez conservadora que
dificulta o acolhimento de novos filiados, ou de novos apoiadores que
não necessariamente aderem às atuais formas de organização partidária.
Queremos
um partido que pratique a política no quotidiano, presente na vida do
povo, de suas agruras e vicissitudes, e não somente que sai a campo a
cada dois anos, quando se realizam as eleições.
Um
PT sintonizado com nosso histórico Manifesto de Fundação, para quem a
política deve ser “ atividade própria das massas, que desejam
participar, legal e legitimamente, de todas as decisões da sociedade”.
Por
isso, “o PT deve atuar não apenas no momento das eleições, mas,
principalmente, no dia-a-dia de todos os trabalhadores, pois só assim
será possível construir uma 3 nova forma de democracia, cujas raízes
estejam nas organizações de base da sociedade e cujas decisões sejam
tomadas pelas maiorias”.
Tal
retomada partidária há de ser conduzida pela política e não pela via
administrativa. Ela impõe mudanças organizativas, formativas, de
atitudes e culturais, necessárias para reatar com movimentos sociais,
juventude, intelectuais, organizações da sociedade – todos inicialmente
representados em nossas instâncias e hoje alheios, indiferentes ou,
até, hostis em virtude de alguns erros políticos cometidos nesta
trajetória de quase 35 anos.
Dar
mais organicidade ao PT, maior consistência política e ideológica às
direções e militantes de base, afastar um pragmatismo pernicioso,
reforçar os valores da ética na política, não dar trégua ao
“cretinismo” parlamentar – tudo isso é condição para atingir nossos
objetivos intermediários e estratégicos.
Em concordância com este manifesto, nós, presidentes de Diretórios Regionais de 27 Estados, propomos:
1. Desencadear um amplo processo de debates, agitação e mobilização em defesa do PT e de nossas bandeiras históricas;
2. Defesa do nosso legado político-administrativo e do governo Dilma;
3.
Participar e ajudar a articular uma ampla frente de partidos e setores
partidários progressistas, centrais sindicais, movimentos sociais da
cidade e do campo, unificados em torno de uma plataforma de mudanças,
que tenha no cerne a ampliação dos direitos dos trabalhadores, da
reforma política, da democratização da mídia e da reforma tributária;
4. Apoiar o aprofundamento da reforma agrária e do ap
oio à agricultura familiar;
5.
Orientar nossa Bancada a votar o imposto sobre grandes fortunas e o
projeto de direito de resposta do senador Roberto Requião, ambos em
tramitação na Câmara dos Deputados;
6.
Apoiar iniciativas para intensificar investimentos nas grandes e
médias cidades, a fim de melhorar as condições de saneamento, habitação
e mobilidade urbana;
7. Buscar novas fontes de financiamento para dar continuidade e fortalecimento ao Sistema Único de Saúde;
8. Apoiar uma reforma educacional que corresponda aos objetivos de transformar o Brasil numa verdadeira Pátria Educadora;
9.
Levar o combate à corrupção a todos os partidos, a todos os Estados e
Municípios da Federação, bem como aos setores privados da economia;
10.
Lutar pela integração política, econômica e cultural dos povos da
América, por um mundo multipolar e pela paz mundial. O momento não é de
pessimismo; é de reavivar as esperanças. A hora não é de recuo; é de
avançar com coragem e determinação. O ódio de classe não nos impedirá
de continuar amando o Brasil e de continuar mudando junto com nosso
povo. Esta é a nossa tarefa, a nossa missão. É só querer e, amanhã,
assim será!
São Paulo, 30 de março de 2015″